Radiohead - Clássicos Escondidos (Backdriftts)

Backdriftts

Álbum: Hail to The Thief (2003)

Quando Four Tet excursionou com o Radiohead em uma das digressões mais intensas da história da banda, a mini tour ibérica em 2002, havia uma grande razão de ser.: A influência do som do genial produtor sobre a mente doentia de Thom Yorke.

Mas como já é sabido, a maneira que a trupe de Oxford processa suas nobres influências, sobrescrevendo em sua própria linguagem à linhas que serão ouvidas em uma maestria rara que torna-se assinatura da banda é digno de um estudo. Backidriftts reflete isso. Se Idioteque é um dos sons de rara eletrônica mais executados e discutidos nos anos 00, aqui o Radiohead tece em descontínua paisagem cinzenta, um som quebradiço, feito no limiar do ciberespaço, com poderosos samples saindo das mais obscuras mentes cyborg e um vocal de Yorke chapando reverberações inconscientes de medo e pessimismo mórbido, doente, incolor, nos convida ao entorpecimentos múltiplo.

Backdriftts é a prova definitiva do que já sabíamos desde Ok Computer e passamos a nos acostumar: A eletrônica do Radiohead promove texturas improváveis, casamentos de irrealidades andróides com avalanches de efeitos orgânicos processados nas guitarras e com direito a um pequeno e sublime solo de piano, tudo envolto na voz hich-tec de Thom Yorke misturando-se aos mecanismos sonoros como ventos metálicos fazendo a engrenagem funcionar e seguir rumo a dimensionalidades que só ouvindo incessantemente poderemos chegar.

A canção reflete também o momento onde o ser humano parece não ter controle sobre si mesmo, culminando com passos para trás em sua própria evolução ao mesmo tempo em que tecnologicamente avança, o homem parece regredir cada vez em sua existência espiritual, moral, filosófica. A quarta faixa de Hail To The Thief é uma das melhores construções sonoras da nossa geração.

Um petardo.