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Para Ouvir Lendo (Ou apenas ouvir) | Influências e confluências

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“Ninguém vai dizer que foi por amor”

 

 

Triste – acompanhado de cigarros, bebidas e medicamentos (ou seja, sozinho, como impreterivelmente estou em todos os momentos decisivos da minha vida) – finalmente aceito que o fone de ouvido, que por tanto tempo me acompanhou, não pode mais seguir comigo. No começo é sempre igual, a gente finge que não percebe as primeiras falhas e lapsos, faz vista grossa para os fios esgarçados, remenda o que é possível remendar. Mas em todas as noites estremecemos com a ideia de que, em pouco tempo, será a hora de se desfazer de mais um objeto-de-consumo. E nesse momento, eu sei, sou apenas eu que entendo a violência que essas palavras tão frias e criticadas são, frente ao meu fone de ouvido. Contra isso, nada posso fazer. Contrariado, coloco o novo fone (aquele que, por tempos, ficou ali naquela caixa, só para o caso dê.), estranho a nova anatomia. No todo, ele parece agressivo. A qualidade do som é boa, mas não se trata disso, porque nesse momento eu odeio cada pedaço desse ato sujo: o abandono, o fone intacto, o objeto sem marcas, o novo, a covardia do meu ato de deixa-lo ali à espreita, o fato de que todos os outros fones não podem mais estar comigo. Vencido, entendo que esse é o movimento da vida, principalmente aquela que é inscrita nesses nossos termos tão pós-modernos (e, por favor, um pouco de sensibilidade, não me fale agora da potência que reside nisso!), mas ainda dói. Aquele fone (daqui pra frente, meu fone anterior) me acompanhou por tantas horas, tantos quilômetros, por tantos momentos, tantas novas músicas favoritas, tantas escolhas... situações onde desacreditei de tudo e chorei vencido, ele estava ali, sem exigir nada, sem ser nada além da companhia necessária. Entendo que isso não é uma metáfora, é a própria vida que se repete nesse ato de finitude. Tudo passa e, em muitos momentos, os que nos acompanham vão deixar de ser antes de nós próprios. Não nos sobra mais do que, aceitando ou negando, reagir ao inexorável fim. Tentar enquanto podemos, seguir enquanto conseguimos. Até sermos o maldito fone de ouvido com defeito que tanto amor incitou e já não mais consegue continuar.

 

Quem escreve essas palavras dá mais um trago no cigarro e é surpreendido que, no seu ouvido, um novo fone estranho está. Fone que, no entanto, foi capaz de passar despercebido e ser fiel ao longo de palavras tão difíceis, sem pedir nada em troca, sem exageros. Modesto. É o início de uma nova volta na espiral do tempo, entre seres finitos, cientes de suas finitudes. Em um descuido, deixo cair o mp3 e, como se fosse um reflexo, temo pela integridade do fone que me conecta com meu mundo.

 

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João Henrique Balbinot, paranaense de interior, gosta de viver rodeado de músicas, palavras e pessoas.  Quase sempre. Como escritor, é autor do livro de contos “No arco-íris do esquecimento” (Ed. Multifoco, 2012) e do livro de poesias “Pequenezas e outras infinitudes” (com previsão de lançamento ainda esse ano).

 

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http://www.editoramultifoco.com.br/literatura-loja-detalhe.php?idLivro=966&idProduto=995 (também disponível nos sites das livrarias Cultura e Travessa)

 

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Imagem art: agatamarszalek

Para ouvir lendo (ou apenas ouvir): Shuffle

Motoko Ishii 4

 

Influências e confluências

 

A vida se apresenta cada vez mais multifacetada e rica, isso é sabido. Somos, a todo o momento, atravessados por diversas influências, ao passo que nos fazemos e nos desfazemos em diversas relações de troca, seja com a realidade, seja com a nossa fantasia. Ser uma dobra desse plano implica viver em uma constante afetação, ainda que existam pessoas que prefiram negar tudo aquilo que pode lhes alterar – por medo e também por conforto. É importante enxergar e sentir que, embora incite certa insegurança, a potência do vir a ser está aqui pronta pra nos ampliar.

 

Por mais rico que seja o trabalho de um artista (ou uma banda, como é o caso), se deter apenas a ele é se limitar de uma maneira que hoje temos a possibilidade de evitar. O próprio artista para criar não se detém em uma única inspiração, pois quanto mais referências tiver, mais complexa sua arte pode ser tornar (aqui é importante não confundir arte complexa com arte inacessível).

 

Pensando nisso resolvi expandir os propósitos dessa coluna, que a partir de agora passa a se chamar “Influências e confluências”, por entender que orbitar sempre em torno de um mesmo assunto é uma postura bastante pobre. Permanecerei escrevendo poesias e contos que não possuirão relação tão direta com o Radiohead, mas manterei em meus escritos o implicamento com a arte emancipatória que, friso, deve ser a preocupação de todo e qualquer artista.

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João Henrique Balbinot, paranaense de interior, gosta de viver rodeado de músicas, palavras e pessoas.  Quase sempre. Como escritor, é autor do livro de contos “No arco-íris do esquecimento” (Ed. Multifoco, 2012) e do livro de poesias “Pequenezas e outras infinitudes” (com previsão de lançamento ainda esse ano).

 

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Para ouvir lendo (ou apenas ouvir): High and Dry

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Lilás (hediondos crimes brandos).

e, de repente, um fio de cabelo

há tanto esquecido e negligenciado,

deflagrando não só a existência dela,

como sua passagem por lá.

 

Ela já esteve ali.

 

O cabelo longo de tantos anos, quase tão longo, quanto aquela história,

que assepticamente tentaram apagar e

por felicidade, intenção, ou não

piamente falharam.

 

Um fio.

Ela.

A existência de tudo aquilo, violentando a brancura irremediável, roubando os perfumes, criando tantos outros, e, sobretudo, falsificando, os gostos, os tons, os momentos e as expressões, as dela e, sem saber(em), as dele…

 

Quem teme não deve.

 

Um fio que se safou de todas as limpezas, de todas as sextas-feiras (até as mais desesperadas e maníacas)

aguentou sozinho todo o peso do mundo e do tempo.

e do esquecimento.

todos inexoráveis e, pelo cabelo e no cabelo, irrefutáveis.

 

Quem teme não está.

 

Quem teme e suspira não mais é.

nem será.

não daquele jeito.

não mais.

 

Ser e tempo.

das intermináveis conversas.

dos inabaláveis silêncios.

da época e da vida em que se faziam e matavam o tempo, em que se matavam, e faziam tempo.

 

Uma estória empoeirada.

Bocas marcadas de sujeira.

 

E o cabelo.

criando novamente tudo aquilo, mostrando que eles já estiveram juntos, que eles tiveram (e foram) história(s).

que eles aconteceram e foram, há tanto, tanto em tão pouco.

pouco tempo.

pouco outro.

pouco eles.

toda aquela escassez era e que, por aquele cabelo loiro espiralado e tão sujo, voltou a ser.

ao fundo, como um disco riscado, “high and dry” embala os sonos,

as insônias, daqueles que, esquecidos, se esquecem.

 

Mas agora são lembrados.

 

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João Henrique Balbinot, paranaense de interior, gosta de viver rodeado de músicas, palavras e pessoas.  Quase sempre. Como escritor, é autor do livro de contos “No arco-íris do esquecimento” (Ed. Multifoco, 2012).

 

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Para ouvir lendo (ou apenas ouvir): How to disappear completely




Chamamento

Depois de incontáveis dias de sujeira acumulada
Assisto a banheira se enchendo aos poucos
A água sobe calma e, com ela, algo de pacífico também surge
Olho na minha face refletida, então estremeço e me fascino
Sinto um chamamento pra água e em meu reflexo alto também me suga
Vou ávido de cabeça e me machuco
O sangue forma um fio na água, depois se torna róseo e some
Não me parece nada de grave
Com a dor galopante vem a tontura

A imensidão do mar sempre me assustara
A imensidão do mar sempre fora motivo suficiente para não me entregar
Narciso de banheira
Nunca fui dado aos mergulhos e transbordamentos
Mas sempre bati muito a cabeça em friezas e instransponibilidades
Nesse banheiro tudo me parece propício, me é adequado
O estado psíquico se altera

Um estado de sonolência se instala
Como fio último da razão olho a água que transborda e me despreocupo
O ralo ao lado da privada e o degrau do banheiro impedirão que a água avance por todo o apartamento
Escuto o barulho dela caindo leve como uma chuva leve e sem vento
Tudo está bem
Adormecendo, a dor acaba sumindo

Um movimento involuntário me assusta e me acorda
Começo a me debater dentro da banheira
O humano em mim vira translucido
O peixe que me torno se desespera
Descubro despreparado que o sal do mar me seria imprescindível
Agora é tarde, me inquietando novos machucados se fazem
Escamas se soltam, pequenos cortes sangram
Tudo se torna bruto
Os olhos órfãos de pálpebra se embranquecem
Sem outra opção, miro o teto e é tudo

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João Henrique Balbinot, paranaense de interior, gosta de viver rodeado de músicas, palavras e pessoas.  Quase sempre. Autor do livro de contos “No arco-íris do esquecimento” (Ed. Multifoco, 2012).
Livro:

Para ouvir lendo (ou apenas ouvir): Life in A Glasshouse

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Movimento retilíneo uniforme (um fragmento)*

 

Ainda que difícil, ainda que em descrente esperança, vou. Não vou para lugar algum, apenas vou. Não intencionar um lugar de chegada é tão imprescindível quanto ir. Corro mesmo que as minhas pernas doam, mesmo que meu corpo definhe: em tempos mudos e acomodados, não há outra alternativa além de sobressair ao normativo, aos não-me-toques e me-desculpes dessa vida. Corro até destoar, até irromper e me chocar com tudo que há de moderado e comedido nessa vida. Neste lugar maquínico e, por via oral, anestesiado é impossível aceitar o razoável, porque a vida, ultrajante, é um exagero por definição. Corro de encontro ao me perder, para conhecer meus limites, fazê-los deslimites, disparates.

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* Este é o 16º conto que compõe o livro “No arco-íris do esquecimento”, originalmente dedicado para “Marcel Bocalão”.

 

João Henrique Balbinot, paranaense de interior, gosta de viver rodeado de músicas, palavras e pessoas.  Quase sempre. Autor do livro de contos “No arco-íris do esquecimento” (Ed. Multifoco, 2012).

 

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Para ouvir lendo (ou apenas ouvir): Mute

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E essa sua arte, ela serve pra que(m)?

Noções básicas: a arte é necessariamente emancipatória, a arte é questionadora, a arte é instigante e, sobretudo, a arte precisa constantemente olhar para si. O resto, ainda que com pretensões e presunções artísticas, é entretenimento. Músicas top20, filmes blockbusters, livros best-sellers e similares (similares mesmo, visto que são produzidas e reproduzidas com o propósito de manter tudo no lugar): entretenimento puro e simples que daqui um ano será esquecido. Os rankings se atualizam com cada vez mais agilidade sem haver nenhuma renovação e neles tudo aquilo que surge é mais do mesmo. Um hit sucede o outro e quando o inédito periga aparecer, é facilmente corrompido, inserido e desvirtuado nesse nosso modo de se fazer “arte” em cadeia.

 

De fato, é bastante difícil fugir das engrenagens e é especialmente difícil conseguir escapar destes artifícios que a indústria cultural produz e acaba se utilizando. Sim, vez ou outra, na grande mídia, algo de genuíno aparece, pessoas bem intencionadas e inspirações profundas, mas nada disso garante que o “artista” e a sua a “arte” não sejam cooptados pelo atual status quo. Por conta disso, se mostra imprescindível fazer o uso constante da autocrítica supracitada.

Entretanto, além de ser trabalho de formiguinha e um nado contra a maré, reconheço, é extenuante se manter fiel aos seus propósitos (leia-se se manter fiel à arte), quando existe uma mídia e uma infinidade de meios de comunicação que diminuem a importância da arte verdadeira, especialmente porque há um grande número de pessoas consonantes com tudo isso e, assim, dão a esses absurdos o status de verdade. Tudo se limita em comprar, vender, lucrar e, é claro, trocar. É desestimulante ver pessoas que dizem valorizar a arte não comprarem um livro porque consideram que ele “é muito caro”, ao mesmo tempo que não acham muito caro pagar 18 reais em um cinema para ver um filme 3D. É triste perceber que algumas pessoas buscam a arte para se esquecerem de si, justamente quando elas deveriam recorrer a esta para se encontrarem e, especialmente, se fazerem.

 

Não, não penso em desistir, nem pretendo começar a escrever autoajuda. Mas enquanto artista não posso me privar de fazer essa crítica e também não posso abrir mão dos meios que possuo para assinalar esses aspectos que sufocam verdadeiros artistas e matam muitas obras primas (ou potencial artístico) quando estas ainda estão sendo iniciadas.

 

Acho que o momento atual – apesar das más vontades e interesses estritamente capitalistas – tem muita potência e também muita gente implicada em fazer diferente, porque os infinitos meios que hoje existem, ao mesmo tempo em que constroem as “verdades” hegemônicas, viabilizam o nascimento de muitos artistas. Assim, ao mesmo tempo em que esses questionamentos evidenciam o quão árduo é criar e não reproduzir algo, se manter fiel à arte e não ao lucro, fica evidenciado também como é simples contornar tais situações. Qualquer um pode ser protagonista de uma mudança de interesses (e espero que sejam todos!), do mesmo modo que qualquer um que dispõe dos novos meios de comunicação pode utilizar estes para além do sempre igual.

 

Por isso, friso, é necessário questionar, nada deve parecer natural ou imutável, nada deve soar igual. Se a nossa inquietação artística se perder por conta de todas essas vicissitudes, receio que junto perderemos o que faz nós sermos propriamente humanos.

 

 

 

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João Henrique Balbinot, paranaense de interior, gosta de viver rodeado de músicas, palavras e pessoas.  Quase sempre. Autor do livro de contos “No arco-íris do esquecimento” (Ed. Multifoco, 2012).


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Para ouvir lendo (ou apenas ouvir): You

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O amor é outra coisa*

 

- Vai cara, desembucha, como é estar com uma quedinha? Um Penhasco?

- Velho, não enche o saco.

- Para, meu, aqui é parceria! Diz aí, não precisa ficar acanhado não, o que você diz aqui, morre aqui. Vai, como é estar apaixonado, hein? Como é estar em um relacionamento “é complicado”? De namorico, paparico, amando, in love, febril, embriagado de amor, inebriado pelo aroma de outro ser, de rolo, unido simbioticamente com um outro? ON FIRE?! É te amo, é I love you, é te quiero, é je t’aime, ich liebe dich, e sempre a procura de um novo modo, um novo idiomazinho, pra externalizar todo amor que não cabe no peito de quem ama e que, sendo manifestado, ainda parece pouco perto do tanto que se sente? Como é estar comprometido de verdade com alguém? Confundir tanto as pernas com quem se ama é possível mesmo, ou só a música que é louca de bonita, mas fantasiosa? E depois é possível andar, sair ileso dessa? O roçar da pele daqueles que se amam é realmente como uma pétala aveludada, delicada e também rígida, capaz de provocar os mais profundos estremecimentos? Você ficou cegado? Não tinha olhos para mais ninguém? Era Deus no céu e ela na terra? Aliás, Era Deus que se foda? Os que estavam de fora eram só um ruído? Uma desimportância perto da importância, da necessidade, de amar? Queria passar todo o seu tempo com ela? Queria a eternidade? Sem ela não tinha graça? O calor era mais suportável porque o calor de dentro ardia e queimava muito mais? O céu era mais azul? A grama mais verde? Você não sentia mais fome? Ou se sentia, se esquecia de comer, porque simplesmente estava ocupado demais sentindo outra coisa muito mais funda, intensa e verdadeira? Queria, como em um musical, cantar o dia-a-dia? Como um poeta recitar incoerências de modo a fazer sentidos? Parecia um comercial de margarina? Você acordava com uma vontade danada de mandar flores ao delegado? De bater na porta do vizinho e desejar bom dia? Beijar o português da padaria? MEU, FALA! Como era? Ardia e não se via? Você ficava zonzo? Um frio corria pela espinha? Você não sabia muito bem o que estava fazendo, mas mesmo assim sentia que devia fazer? A coisa é incondicional mesmo? Parecia que era para ser? Coisa de opostos? Atração? Não conseguia manter as mãos afastadas dela? Nem mesmo segredos? Queria segredar tudo para ela? Fugir para outro lugar, baby? É amor mesmo que mude? Morrendo não morre todo? Quando se beijavam os sinos soavam doces nos ouvidos de vocês, jovens enamorados? Você queria deixar o verão para mais tarde e ficar todo o tempo no sofá? Romance é romance e um lance é um lance? Realmente existe essa diferença? Queria mesmo dividir TU-DO com ela? Queria casa no campo, filhos e netos? Vida simples? Rocks rurais inspirados sempre na derradeira musa inspiradora, senhora dos seus sonhos e vigílias? MEU, FALA, COMO ERA ESSA PARADA, AÍ! MUDA ESSE SEMBLANTE DE CANSADO, PARA COM ESSE TIPO DE TÉDIO E VAI FALANDO, NEGUINHO!!!

- Uh... Então, sabe aquele negócio de borboletas no estômago, que os americanos gostam tanto de dizer?

- Sei, claro, claro... O farfalhar incessante das asas das mais delicadas e lindas borboletas – as mais belas criaturas criadas por Ele – na parede do estômago criando, como dizem, uma sensação entre cócegas e dor. Então é assim? A leveza da borboleta? O vento criado pelo bater de asas? E a indescritível sensação visceral que intensa é também suave? Então é tudo isso, afinal?!

- Não, balela, deixa eu terminar de falar, a parada é sinistra... A coisa mais parece aranhazinhas, várias delas, de patinhas bem fininhas, perambulando sem cessar...

- NOOOOSSA, carai!

- E mais, se elas não forem constantemente bem alimentadas, é mortal: elas são extremamente venenosas, não é bom contrariá-las.

 

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* Este é o quarto conto que compõe o livro “No arco-íris do esquecimento”, originalmente dedicado para “Lorene Camargo”.

 

 

 

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Nota: "No arco-íris do esquecimento" na bienal do livro do Rio de Janeiro

 

No dia 31 de agosto de 2013, às 20 horas, João Henrique Balbinot vai estar na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, lançando seu livro "No arco-íris do esquecimento" (Ed. Multifoco, 2012), no estande da Editora Modo, pavilhão verde. O livro estará no referido estande durante toda a bienal. O evento está sendo realizado no Rio Centro.

 

Bienal do livro 2013

 

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João Henrique Balbinot é autor do livro “No arco-íris do esquecimento” (Ed. Multifoco, 2012), paranaense de interior é o autor da coluna no site: Para Ouvir Lendo (Ou Apenas Ouvir).

 

  1. Para ouvir lendo (ou apenas ouvir)
  2. Para ouvir lendo (ou apenas ouvir) | Lucky (parte 06 - final)
  3. Para ouvir lendo (ou apenas ouvir): A Reminder
  4. Para ouvir lendo (ou apenas ouvir): Climbing Up the Walls
  5. Para ouvir lendo (ou apenas ouvir): Lucky (parte 01)
  6. Para ouvir lendo (ou apenas ouvir): Lucky (parte 02)
  7. Para ouvir lendo (ou apenas ouvir): Lucky (parte 03)
  8. Para ouvir lendo (ou apenas ouvir): Lucky (parte 04)
  9. Para ouvir lendo (ou apenas ouvir): Lucky (parte 05)
  10. Para ouvir lendo (ou apenas ouvir): No surprises

Para ouvir lendo (ou apenas ouvir): Climbing Up the Walls

 

 

 

 

O monstro

 

Em torta sintonia sinestésica sincrônica (ou o contrário, que nesses casos meio que dá no mesmo) eu sentia o monstro embaixo da sua cama. Pelo estado que este me deixava, posso dizer que ele era horripilante, como uma sombra sorrateira e especialmente perspicaz. Quase como se fosse uma maldade que se bastava em si mesma. Para dar medo e incitar desesperos pelo simples prazer de ver um homem fraquejar. Devo dizer que aquilo sempre me assustou e, mesmo se utilizando dos mais desesperados artifícios (dormir no chão, olhar debaixo da cama e deixar uma lanterna vigiando aquele lugar), o medo nunca diminuía e o desespero era constante. Eu disfarçava, mas você entendia que havia um outro elemento por ali. E foi assim mesmo, eu sentindo e você entendendo…

 

Depois de tudo feito (e desfeito) incontáveis vezes, comecei a perceber que esse monstro que não se cansava de me deixar em pânico, não estava embaixo da cama, nem mesmo em qualquer outra parte do seu quarto, mas sim dentro de nós dois, e que, só com o nosso encontro, ele poderia vir à tona. O desencontro era a única coisa que eu podia fazer para conseguir me defender. Então nos desencontramos. Como se fosse por sobrevivência… Mas não é tão simples… quando um monstro dessa magnitude some, o vazio que fica no lugar destroça tudo com a mesma intensidade. Desamados, mas ao menos pensei que estivéssemos seguros. Agora eu te pergunto as horas, você pega o seu celular, e então percebemos que, mesmo tentando evitar, nós dois chegamos ao triste momento em que o brilho dos seus olhos se tornou apenas o reflexo daquela pequena tela. E o relógio, como sempre, está atrasado.

 

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A intensa vontade de não ser miserável: recortes de um caderno de memórias*

 

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31 de dezembro

 

os momentos que fomos lado a lado, não foram, de fato, momentos, cada instante estava contaminado, meus movimentos foram premeditados, aquelas cenas passaram déjà-voando incessantemente sobre mim, subvivi. eu antevi toda a nossa história antes mesmo dela começar. repeti cada possibilidade à exaustão na minha cabeça, porque, veja, eu fui muito mais com sua ausência (principalmente inexistência, antes e também depois), do que com você. vivenciei a falta e a falta que a falta faz. sobrevivenciei. vivenci. pode causar espanto, mas não é nada de excepcional, não existimos, não conseguimos existir, amontoados malacabados de barro por se moldar nos despedaçamos ao sol. poderíamos, ao menos, termos nos fundido, mas a chuva esqueceu de cair. inútil sentir culpa ou ódio. cabeça vazia é oficina do diabo e a vida é uma coisa que não deixa de acontecer, esse palco mental abstrato foi ocupado e não havia nada que pudéssemos fazer, apenas humanos, falhamos, e falhamos, e um espaço vazio como esse é logo ocupado por qualquer representação que pede posse, uso capião e essas coisas. cada um de nós está em seu direito (em seu silêncio?), e em seu dever devir, também. nem essa confissão é genuína, eu já falei essas incoerências mil vezes antes, aos berros, aos sussuros, por escrito, assinado ou anonimamente. todos cometemos nossos pequenos crimes, dormimos sobre nossas mentiras brancas que certamente foram muito mais que nove. cada um recorre as armas que possui, o sol vai ardendo, a chuva trata de se esquecer, eu de fantasiar e ela de fugir. hoje eu posso, quero e consigo dizer: tudo bem. limitado e limitante, ela não tem a cura pro meu vício de insistir nessa saudade que eu sinto de tudo que ainda não vi, ela o alimenta. sem ver sinto pesar, antevendo sinto asco, especialmente por saber que nunca verei, não se depender dela me mostrar. limites. trâmites. mais uma vez no penhasco, gritando eco e acenando pro invisível, esperando que a terra ceda. eu não conseguia suportá-la me agonizando, agora agonizo suportando, parece jogo de baralho, ditado por regras que nos impedem de desistir, porque quem lança a bandeira branca perde. enquanto barro barroco esturricamos no sol, rachamos, desmoronamos em cima do desmoronar do penhasco até que, caindo, nos confundimos enquanto poeira.

 

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* Excerto do meu conto de mesmo nome publicado no livro “No arco-íris do esquecimento” (2012, Ed. Multifoco). Que pode ser adquirido em:

 

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A intensa vontade de não ser miserável: recortes de um caderno de memórias*

 

 

 

10 de abril

e, out of fucking nowhere, ela apareceu aqui. fiquei sem reação, sem saber como agir, fazendo qualquer coisa, só pra não ficar ali, paralisado, enfrentando toda aquela carga emotiva que eu filhadaputamente recusei e provavelmente não mereci. já estávamos bastante zonzos com o zunido atordoante de tantos e tantos não ditos que foram sendo acumulados, que nada foi para além de duas almas desconsoladamente perdidas, mudas e paralisadas; o pior ainda estava por vir: aquele-abraço. aquele-maldito-abraço-trêmulo. aquele-maldito-abraço-trêmulo-de-adeus. aquele-maldito-abraço-de-adeus-pra-sempre-de-frente-de-portão. a respiração dela, incessantes empurrões no meu peito, estava tão errada, tão ofegante, tão rasa, que eu só queria empurrar ela para longe e não sentir mais parte da sua dor, ignorar a minha. e foi o que fiz.

 

11 de abril

a lastimável cena de ontem, mudou alguma coisa aqui dentro. sei que depois daquela canalhice eu perdi ela pra sempre. sei também que eu ainda amo ela. ou, ao menos, comecei realmente a.

 

14 de abril

ela não atende.

 

18 de abril

ela nunca está em casa.

 

21 de abril

hoje recebi um email dizendo apenas: “acabou”. fui lá de novo, a vizinha com cara feia disse que ela voltou pra cidade dos pais dela.

 

22 de abril

agora me comportar como uma madre teresa de freakin’ calcutá que sabe ser saudável, que aceita distâncias e convive muito harmoniosamente com ausências; daquelas que sente a falta e, just in case, a revolve de todo um carinho e investimento sutil. em passos silenciosos e olhar atento, espera, e espera, e espera, porque, afinal de contas, entende, compreende e cultiva o tal do “viver é deixar viver”. transparece tranquilidade e serve de porto seguro para um outro e, sobretudo, para um nós, de modo que por mais que do lado de dentro tudo esteja despedaçando, traz no semblante uma expressão de paz/paisagem por sentir e acreditar na esperança do até breve, porque vai que, né?

 

23 de abril

aquilo que doía por si só, agora dói através dessa ausência. é como se em toda falta tivesse agora você.

 

25 de abril

no fundo, ou não tão no fundo assim, eu sou(era?) uma criança mimada e só.

 

02 de maio

eram planos tão bonitos.

 

10 de maio

abrir mão de tudo e se dissipar por entre a brisa.

fugaz.

 

25 de maio

assim como verdades absolutas são parciais e assim como o inverso também se faz verdadeiro, perder uma parte, mesmo uma daquelas que nunca soubéramos como nossa, é perder um todo, mas é também, e sobretudo, constituir uma nova totalidade. um novo inominado.

 

02 de junho

tentei amar alguém tão impregnado de defeitos para que assim o objeto de desejo parecesse o máximo, quanto possível, real. desatentei-me, porém, ao fato de que os defeitos tão estimados eram na verdade parte de um julgamento de caráter errôneo: ela não existia.

03 de setembro

“[...]mesmo que for, não vai por completo.”

 

 

 

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* Excerto do meu conto de mesmo nome publicado no livro “No arco-íris do esquecimento” (2012, Ed. Multifoco). Que pode ser adquirido em: Livro: http://www.editoramultifoco.com.br/literatura-loja-detalhe.php?idLivro=966&idProduto=995

 

João Henrique Balbinot, paranaense de interior, gosta de viver rodeado de músicas, palavras e pessoas.  Quase sempre.

 

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Outras Publicações dessa coluna:

  1. Para ouvir lendo (ou apenas ouvir)
  2. Para ouvir lendo (ou apenas ouvir): A Reminder
  3. Para ouvir lendo (ou apenas ouvir): Lucky (parte 01)
  4. Para ouvir lendo (ou apenas ouvir): Lucky (parte 02)
  5. Para ouvir lendo (ou apenas ouvir): Lucky (parte 03)
  6. Para ouvir lendo (ou apenas ouvir): Lucky (parte 04)
  7. Para ouvir lendo (ou apenas ouvir): No surprises

Para ouvir lendo (ou apenas ouvir): Lucky (parte 04)

A intensa vontade de não ser miserável: recortes de um caderno de memórias*

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05 de abril

e eu gosto tanto de quando você mente de forma deslavada para mim, te faz parecer bem. fazer circunlóquios para me enganar quase te faz feliz, e por isso eu gosto, não que eu caia neles, viva uma ilusão, ou uma vida um pouco mais interessante pintada de tons tempestuosos, não.  não sei ao certo, mas acho que deve ser, principalmente, porque é essa matéria que constitui você. suas mentiras, frágeis mentiras, são o que mais conseguem me aproximar da sua essência, então aguento, insisto e peço mais.

 

06 de abril

ela é quase irritante.

 

08 de abril

ela segurava o seu cigarro com tanta leveza, como se a qualquer momento ele pudesse se desprender da sua mão, que até mesmo eu, que não curto nada que envolva muita fumaça, ficava torcendo para que ela acendesse o próximo e desse as suas expressivas tragadas, fascinado com esse seu trejeito que mostrava muito do seu modo de ser, leveza-enrijecida-estruturante-até-mesmo-contraditório. ela aspirava a fumaça quase que com dor e expulsava de dentro de si quase que com alívio, depois invertia essa ordem e assim continuava, dor-alívio, alívio-dor, às vezes dor/alívio-epifania seguida de uma outra epifania-dor. numa dessas noites, depois de cada uma das incontáveis tragadas, ela só expressou sinais de um alívio triste e incontornável, parecia quase crente que as coisas eram, assim, preto no branco, segurava o cigarro com a mesma leveza de sempre, meio hollywoodiana, exceto por parecer muito mais espontânea. e então, cotovelo na mesa, cigarro na ponta dos dedos, olhar distante, foi tomada por algo que mais se parecia tédio, afrouxou o tônus da mão e deixou o cigarro cair. cair não, mais pareceu despencar, pois, de algum modo, ou melhor, do modo que eu temi desde o primeiro momento que eu a enxerguei, aquele cigarro levou consigo, ao chão, todas as minhas idealizações tão apaziguadoras. rodeado por cinzas e uma lânguida brasa exasperante que se esmiuçava, um fim patético.

 

09 de abril

às vezes a gente não fica todo inflamado de olhos brilhando, se achando capaz de ocupar e dar sentido a uma existência futura não muito distante, nem se sente no topo do mundo, ou julgando ser mais do que se é como quem não cabe em si, e fica ali, murchinho, num canto inóspito, bem a par da situação, pensando “então é isso” ou “então é assim. pra sempre, né?” ou “é isso, não tem jeito, não” ou ainda em casos mais extremados pensa coisas como “porra, que merda, tomanocu, então NADA NUNCA vai dar certo???” & outros superlativos. daí a gente dói, e de um jeito tão familiar que mais parece doer duas vezes. com isso não sobra muito mais do que lançar olhar pro que sobrou, calcular os danos, recolher os despedaços e esperar ser preenchido de novo dessa cola-balão que é a esperança débil de insistir e querer dar certo pelo menos uma vez. aí a gente vai se recolhendo do chão, pensando em tudo que poderia ter sido, mas não foi, e, com um sorriso amarelo-desespero, espera. espera pelo que não tem nome, pela brisa-fresca de novidade, para se preencher e tentar flutuar, uns parcos segundinhos que seja, por aí. da última vez, eu fiquei por um triz de sair do chão. e de repente, não mais que de repente, a minha vida voltou ao normal, embora eu não seja mais o mesmo. nunca mais.

 

 

 

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* Excerto do meu conto de mesmo nome publicado no livro “No arco-íris do esquecimento” (2012, Ed. Multifoco). Que pode ser adquirido em: Livro: http://www.editoramultifoco.com.br/literatura-loja-detalhe.php?idLivro=966&idProduto=995

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Outras Publicações dessa coluna:

  1. Para ouvir lendo (ou apenas ouvir)
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Para ouvir lendo (ou apenas ouvir): Lucky (parte 03)

A intensa vontade de não ser miserável: recortes de um caderno de memórias*

 

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26 de março

eu nunca soube ser um rio de paciência, eu nunca me dei por satisfeito com um pôr-do-sol, por mais que o ache lindo. eu nunca soube aproveitar e me dar por satisfeito, sempre quis mais, sempre quero. desfruto as coisas simples, mas quero mais, quero mais um pôr-do-sol e mais, quero ele só para mim, quero que o pôr-do-sol bata na sua face e que ela reflita na minha, e que seu olho brilhe, que a luz refrata e vire um arco-íris em você, e tudo isso seja meu, hoje, para sempre, amanhã e de novo. que seu rosto brilhe, eternamente brilhe, e eu não me canse jamais dessa beleza única, porque eu sempre quis mais, sempre vou querer mais.

 

01 abril

e o que tiver que vir depois, querendo ou não, depois vai vir. vai vir. e vai ser depois. não agora. então, não ocupe a sua cabeça com tormentas que ainda não existem e que talvez nunca chegarão a existir, não se trancafie em nebulosas racionais, categorizantes e métricas. não. olhe para o mar, veja o mar, sinta o mar. areia úmida e grossa, água fria e aconchegante, ali na altura dos pés, até uma onda quebrar branca na canela, e mais. mais fundo. mais alto. mais pra frente. mais comprometedor. mais inescapável. mais mais, e mais: melhor. deixe o mar ser por você, até você própria chegar a ser o próprio mar, até você não ser mais do que uma gota, entre infinitas outras, mas ainda você, ínfima e ligada àquilo tudo. você-gota, ligada e distinguível. você além de você; você além do mar. o mar tá aqui. e você também. sendo você, será o mar. sendo o mar, será você. você pode ir embora, mas, passado o encontro, ele não vai embora de você, nunca mais, porque mesmo que for, não vai por completo.

 

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* Excerto do meu conto de mesmo nome publicado no livro “No arco-íris do esquecimento” (2012, Ed. Multifoco). Que pode ser adquirido em: Livro: http://www.editoramultifoco.com.br/literatura-loja-detalhe.php?idLivro=966&idProduto=995

 

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Para ouvir lendo (ou apenas ouvir): Lucky (parte 02)

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A intensa vontade de não ser miserável: recortes de um caderno de memórias*

 

 

25 de fevereiro
pode parecer estranho, mas eu gostei de você.
sobretudo fumando (o que é ainda mais estranho!)

 

27 de fevereiro
olhar não arranca pedaço, né? e faz até bem! quem sabe porque, mesmo assim, mesmo depois de tudo, tudo que eu quero é que ela seja para mim o que ninguém mais foi.

 

01 de março
eu queria dividir a minha vida com você, dividir tudo que fosse possível com você, aliás, não apenas dividir, mas trocar, compartilhar,  te ajudar a ser alguém, te invadir de coisas boas, criar um laço de afeto para sermos livres, te livrar do mal intencionado, te olhar nos olhos sempre, fazer possível.

 

01 de março
:D

 

02 de março
e de repente, não mais que de repente, a minha vida mudou…

 

13 de março
me pegue pela mão, puxe meus cabelos, não fique indiferente à mim; não fique indiferente e fique comigo, eu te levarei para um lugar que de hoje em diante passa a ser só nosso, nosso canto de paz e fúria, por favor fique, deite comigo na grama e veja no céu os belos desenhos que as nuvens fazem para você, para serem dignas da sua beleza, do seu sorriso quase bobo, sempre lindo. me beije, me proteja da violenta ausência que é tudo sem você. vem, vambora, eu quero viver, quero viver uma vida inteira e plena com você, você me faz tão bem, vamos rodar, vamos rodopiar, vamos nos despreocupar, vamos brincar, rodopiando, ficar na contínua ebriedade dos nossos laços, na confusa horizontalidade de nossa relação, nossa complexidade é tão simples de ser e ser com o outro. vem bordada, traga flores e conchas, em um canto me diga como se sente, quais são tuas tormentas, que eu te leio um poema, nós nos entenderemos, seu cheiro me conforta, seus braços são pousadas, como os meus são para você. olhe no céu, olha quanta vida tem o sol, quanta vontade de queimar, seu rosto fica tão receptivo quando o sol te toca, tem tanta vida em cada pequena coisa, tem tanta coisa em cada pequena vida.

 

22 de março
nós somos tantas coisas e também somos tantas coisas um pro outro que mais parece que falta tempo pra nós ficarmos juntos, bem relaxados, deitado em uma espreguiçadeira olhando para as nuvens, ou reclamando do calor, ou procurando marquinha de nascença na pele do outro, bem a toa mesmo. é, falta tempo, e cada tempo passado junto parece fazer com que nós nos descubramos mais e mais. nos descobrimos, nos desvendamos e invariavelmente nos expandimos mais um pouco, de modo que o tempo junto só aumenta ainda mais o que se há para ser e ser para o outro. todo o tempo junto que recuperamos só faz aumentar ainda mais a nossa falta de tempo, a nossa precariedade e vontade de insistir, aí nos aproximamos, enquanto vamos criando pontos cada vez mais distantes um do outro, quase como uma trilha de migalhas, ou estradinha de tijolos dourados. à procura e em criação. somos tantas coisas, tantas coisas a nos dizer, tanta coisa a nos fazer, somos tanto, que não importa o que fizermos, fazendo só vai ser uma coisa, uma dentre tantas as possibilidades que por capricho se cristalizou, deixando em suspensão muito do que havia para ser. somos, seremos, seríamos, sejamos, fomos alguma coisa, enquanto tantas outras ficaram ali, na margem, esperando a sua oportunidade de também ser. nós somos tanto que não cabe no tão pouco, nem no muito, já que nem sabemos bem o que somos, assim conceito fechado, então, não nos sobra mais do que aceitar essa pluralidade e essa limitação toda e nos lançarmos, nus, a situação, como quem olha pra um caleidoscópio, que a cada momento estratifica e eterniza uma das infinitas facetas, nos deslumbrarmos, nos devorarmos e esperarmos nossa próxima chance de lançar mais umas olhadelas nisso tudo.

 

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* Excerto do meu conto de mesmo nome publicado no livro “No arco-íris do esquecimento” (2012, Ed. Multifoco). Que pode ser adquirido em: Livro: http://www.editoramultifoco.com.br/literatura-loja-detalhe.php?idLivro=966&idProduto=995

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Para ouvir lendo (ou apenas ouvir): Lucky (parte 01)

A intensa vontade de não ser miserável: recortes de um caderno de memórias*

 

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08 de fevereiro

mesmo quando não chove, chove em mim.

mesmo quando abre o sol tem um cantinho que continua escuro e úmido;

a nhaca deve ser um viveiro de musgo.

 

14 de fevereiro

comigo carrego essa sensação que vez ou outra vem à tona, parece que sou capaz de sentir coisas que, além de não florescer, fazem regredir: mágoas, tristezas, lamentos, e, quando tudo junto, desolação. ódio? esse pareço não sentir, não, nem ele, nem nada assim que propulsione. parece que só na dor me reconheço e só na dor consigo reconhecer o resto que se há por aí. talvez aquela ladainha de só conseguir conhecer e ser conhecido por alguém, se este alguém carregar em si uma tristeza tão genuína e plena quanto a minha, seja mais verdade do que eu supunha na época em que comecei a pensar nisso tudo. hoje, embora pareça verdade, nem sei se eu iria querer isso mesmo, conhecer alguém na tristeza e nela também me reconhecer, porque, poxa, eu quero é ser feliz, mesmo que, talvez, não faça nem ideia de como isso funcione. Se bem que deve ser bom não saber ser feliz, quase como um pré-requisito, para assim conseguir ser e se sentir, sem a inútil teorização das metafísicas intangíveis e todo esse caralho a quatro todo que nesses casos não servem de nada.

 

16 de fevereiro

eu quero amor, quero lutar contra o sono e vencer, eu quero ver o dia nascer no meio de uma conversa acalorada, eu quero ver o dia nascer enquanto divido um silêncio ainda mais acalorado e íntimo com alguém, não quero dormir mais para que o hoje nunca acabe, quero dormir cedo para que o tão esperado amanhã chegue logo, quero sonhos, quero sonhar que posso voar, quero realizações, quero delírios, quero experimentar todo tipo de exaustão, quero paz de espírito, coração apertado, mente em movimento, quero uma inspiração e por alguma coisa, quero ajudar no que puder, mesmo que não consiga, quero tentar, quero fazer a diferença para aquele que está imediatamente próximo a mim, quero me abalar com o atroz, quero estudar, aprender, ensinar, quero uma vida que eu reconheça como minha.

quero beijos intermináveis até que os olhos mudem de cor, brincadeirinha, mas é sério, quero emocionar alguém, quero me emocionar com alguém, quero querer alguém, quero frio na barriga, pelos arrepiados, dar prazer, ser o motivo de algum sorriso, quero ser uma boa, singela e simples companhia, quero acalantar todas as dores físicas e mentais, minhas ou não, que puder, quero deixar a minha marca e quero que ela seja boa, quero ser um bom contador de histórias, quero ser um amigo sempre melhor, quero sinceridade, quero ser mais e mais sincero, quero despedidas, encontros e reencontros, ser para e através do outro, quero uma vida em que eu me reconheça, virtudes e vícios, e ainda que exista o eterno querer mais eu me dê por satisfeito apenas por estar nessa.

 

20 de fevereiro

no fundo, a gente só quer ter em quem pensar quando a letra diz: how I whish, how I wish you were here...

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* Excerto do meu conto de mesmo nome publicado no livro “No arco-íris do esquecimento” (2012, Ed. Multifoco). Que pode ser adquirido em:

 

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Para ouvir lendo (ou apenas ouvir): No surprises

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Os fatos se repetem

 

Os detalhes, o foco e a forma também

Mais insuportável do que ouvir sempre as mesmas histórias

É ouvir sempre os mesmos diálogos

 

Frases que se sucedem mais uma vez

Espantos que se intercalam

Pior do que ver sempre o mesmo tédio

É ver sempre o mesmo deslumbre

 

O estupor sem memória vira então um hedonismo vão que se desfaz e se esquece

Até a próxima colisão sem nenhum encontro

Até à próxima repetição fugaz

Os fatos se repetem.

 

Talvez com o eterno inédito apareça a inédita quebra.

Talvez não, mas é tudo o que se tem.

 

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João Henrique Balbinot, paranaense de interior, gosta de viver rodeado de músicas, palavras e pessoas.  Quase sempre. Autor do livro “No arco-íris do esquecimento” (Ed. Multifoco), atualmente trabalha em seu segundo, terceiro e/ou quarto livro, depende do que a sua paciência lhe permite.

 

 

 

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Para ouvir lendo (ou apenas ouvir)


 Words are a sawed off shotgun (ou Palavras e reincidências)

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      Por: João Henrique Balbinot




Mais uma vez, eu me atropelo, eu me colido em você, eu me estilhaço... Faz tanto tempo, não faz? Acho que resgatar todos os pontos dessa ferida é só uma nova burra forma de fazer doer. Eu não queria escrever essas coisas mornas e meio doces que provavelmente serão depois desvirtuadas do seu contexto e sentido. Mas talvez seja inevitável, nossa relação nunca teve muito sentido mesmo, apenas o nosso desejo e a minha insistência em reincidir. Eu tô escrevendo a alma fora. Não é tinta, sou eu saindo por essa caneta. Acabando-me e não me transformando em coisa outra. Sabe-se lá o que se faz com isso. Eu também pouco sabia e o que fazer com o que fôramos. Eu ainda não sei. Mas agora, talvez em linhas eu também sirva pra algo. A possibilidade que parece agora a priori limitada, pode ser uma outra abertura da espiral. O sentido fica por ser dado por/com um terceiro, como de costume. Esse é meu mapa. E também meu caleidoscópio. Se não se encerra, também não permanece.

Não é apenas sobre escrever que agora eu me encarrego. É sobre salvar. Sobreviver. Liberta-se, libertar-te, libertar-nos. Pode parecer pretencioso e petulante, mas é isso que a gente faz por toda vida, segurar primaveras nos dentes e sonhar fincando as unhas grandes nessa coisa que teima escapar, que muitas vezes acorda sem despertar. Eu permaneço aqui. Não sei se por conta da nossa história em conjunto, ou por nossa história pessoal. Só sei que, independente do sofrimento material (meu-e-seu), aquele que partiu foi você e quem permaneceu fui eu... Só sei que aqui permanece uma vontade de dizer oi, enquanto tudo que eu tento e devo fazer é dar tchau...

Eu tentei, eu estou tentando tanta coisa. Como mercúrio, nós somos várias bolinhas que correm na palma da mão, sem deixar nenhum rastro pra trás. Pra continuar sendo, só deixando a palma aberta, equilibrando, é que consigo nos manter comigo. É difícil. Quando quase caem, ligeiro, eu fecho a mão, mas então a bolinhas se liquefazem e escapam pelas fendas que existem entre meus dedos.
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João Henrique Balbinot, paranaense de interior, gosta de viver rodeado de músicas, palavras e pessoas.  Quase sempre. Autor do livro “No arco-íris do esquecimento” (Ed. Multifoco), atualmente trabalha em seu segundo, terceiro e/ou quarto livro, depende do qual rolar primeiro.

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Para ouvir lendo (ou apenas ouvir): A Reminder

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“Só uma arte irritada, indecente, violenta, grosseira pode nos mostrar a outra face do mundo, aquela que nunca vemos ou nunca queremos ver”

 

- Trilogia suja de Havana, Pedro Juan Gutiérrez

 

 

Por: João Henrique Balbinot

 

Eu escrevo por diversos motivos. E não me canso de achar razões para continuar escrevendo. Ainda bem. Mas meus propósitos sempre orbitam em torno de uma preocupação política. Acho que de superficialidades e aparências estamos cheios. Ou seja, minha ânsia em escrever não difere muito do ímpeto que move as composições – melodia e letra – de Thom em conjunto dos demais meninos. Como eles, também entendo que uma obra só se encerra (ainda que avance) quando chega ao entendimento do outro lado: o expectador, ouvinte ou leitor, que se afeta e faz algo a partir disso. Mesmo que tudo soe como uma grande incompreensão, o estranhamento, ainda que em lampejos, existe.

 

Por conta de tudo isso, escrevi um livro. E estou me fazendo com ele desde então. Isso me trouxe uma série de acontecimentos que não estavam previstos. Escrever essa coluna é só um pequeno e bom exemplo disso. Eu poderia me deter dizendo o que fez eu escrever contos a partir das músicas do Radiohead. Ou falar um pouco sobre como foi o processo criativo calcado em uma livre interpretação de poesias substanciais. Mas não tenho por hábito me prender nas coisas que já foram, até porque, mesmo com um ponto final, não é pelo autor que as frases terminam de ser ditas/escritas.

 

Algumas pessoas fazem poesia com o corpo, outros fazem poesias em paredes. Eu faço poesia em prosa (às vezes tão truncada que mais parece verso). O que escreverei e escrevo aqui, será basicamente isso. Principalmente de minha autoria, mas, vezes em quando, encontro palavras alheias que conseguem dizer melhor o que eu me bato em escrever (e elas também serão bem-vindas!).

 

Ademais, toda vírgula que surge é necessariamente um movimento político: não há escrita capaz de ser descompromissada. Ovos enegrecidos que se apunhalam e, se apodrecendo, formam um novo arco-íris. Matéria orgânica fétida: um novo sopro de vida. Como quem trabalha a terra com cascas de frutas e estrume. Odores nauseabundos. Náusea e ânsia: liberdade.

 

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João Henrique Balbinot, paranaense de interior, gosta de viver rodeado de músicas, palavras e pessoas.  Quase sempre. Autor do livro “No arco-íris do esquecimento” (Ed. Multifoco), atualmente trabalha em seu segundo, terceiro e/ou quarto livro, depende do qual rolar primeiro.

 

Matéria que ainda há pouco saiu por aqui e pode trazer informações úteis para os interessados de bom coração: http://www.radioheadbrasil.com/2013/04/no-arco-iris-do-esquecimento-por-joao.html

 

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