Para ouvir lendo (ou apenas ouvir)


 Words are a sawed off shotgun (ou Palavras e reincidências)

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      Por: João Henrique Balbinot




Mais uma vez, eu me atropelo, eu me colido em você, eu me estilhaço... Faz tanto tempo, não faz? Acho que resgatar todos os pontos dessa ferida é só uma nova burra forma de fazer doer. Eu não queria escrever essas coisas mornas e meio doces que provavelmente serão depois desvirtuadas do seu contexto e sentido. Mas talvez seja inevitável, nossa relação nunca teve muito sentido mesmo, apenas o nosso desejo e a minha insistência em reincidir. Eu tô escrevendo a alma fora. Não é tinta, sou eu saindo por essa caneta. Acabando-me e não me transformando em coisa outra. Sabe-se lá o que se faz com isso. Eu também pouco sabia e o que fazer com o que fôramos. Eu ainda não sei. Mas agora, talvez em linhas eu também sirva pra algo. A possibilidade que parece agora a priori limitada, pode ser uma outra abertura da espiral. O sentido fica por ser dado por/com um terceiro, como de costume. Esse é meu mapa. E também meu caleidoscópio. Se não se encerra, também não permanece.

Não é apenas sobre escrever que agora eu me encarrego. É sobre salvar. Sobreviver. Liberta-se, libertar-te, libertar-nos. Pode parecer pretencioso e petulante, mas é isso que a gente faz por toda vida, segurar primaveras nos dentes e sonhar fincando as unhas grandes nessa coisa que teima escapar, que muitas vezes acorda sem despertar. Eu permaneço aqui. Não sei se por conta da nossa história em conjunto, ou por nossa história pessoal. Só sei que, independente do sofrimento material (meu-e-seu), aquele que partiu foi você e quem permaneceu fui eu... Só sei que aqui permanece uma vontade de dizer oi, enquanto tudo que eu tento e devo fazer é dar tchau...

Eu tentei, eu estou tentando tanta coisa. Como mercúrio, nós somos várias bolinhas que correm na palma da mão, sem deixar nenhum rastro pra trás. Pra continuar sendo, só deixando a palma aberta, equilibrando, é que consigo nos manter comigo. É difícil. Quando quase caem, ligeiro, eu fecho a mão, mas então a bolinhas se liquefazem e escapam pelas fendas que existem entre meus dedos.
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João Henrique Balbinot, paranaense de interior, gosta de viver rodeado de músicas, palavras e pessoas.  Quase sempre. Autor do livro “No arco-íris do esquecimento” (Ed. Multifoco), atualmente trabalha em seu segundo, terceiro e/ou quarto livro, depende do qual rolar primeiro.

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