Jacques Greene Fala Sobre Remixar Radiohead

Jacquesgreene_slide_slide

Via (Creatorsproject) Nos últimos anos, a definição de dance music foi desvirtuada, já não estamos mais presos pelas restrições da definição antiga de batidas uniformes pré-definidas. Desde que você conjure algo que faça as pessoas rebolarem, não há um estilo padrão de beat ou um BPM sendo favorecido em detrimento do outro. Esse é o tipo de liberdade que Jacques Greene gosta. Vindo de Montreal, Greene é parte da geração de criadores de batidas que apareceram com uma grande variedade de música, e um ecleticismo que engloba o exotérico e não despreza os sons do pop. Essa abertura cria um estilo que não é definido por sua velocidade ou batida, mas pelo seu sabor, pura e simplesmente.

A menos que você siga selos de vanguarda como LuckyMe, uma das casas de Greene, sua primeira exposição ao trabalho dele provavelmente foi seu remix de “Lotus Flower” do Radiohead, escolhido por Thom Yorke para o álbum de remixes do King of Limbs, TKOL RMX 1234567, ou talvez por “Another Girl”, uma faixa que pode ser considerada o primeiro hit do produtor. Se nenhuma dessas é familiar, saiba que é ele o cara de óculos do clipe de “212” de Azealia Banks.

Nos últimos meses, Greene soltou seu EP Concealer e o single Ready, e pegou a estrada com o apoio do The xx. Conversamos com o produtor para saber como ele cria seu som com influências de house e R&B, sua descoberta do vinil aos 14 anos, seu envolvimento na cena de música de Montreal com a Ninja Tune e muito mais.

The Creators Project: Quando você começou a criar música?
Jacques Greene:
Por volta dos 13, 14 anos, comecei a comprar discos. Um ano ou dois depois disso, comecei a trabalhar como DJ nos clubes da vizinhança.

Isso é bem impressionante, já que pessoas dessa idade não costumam mais comprar discos.
Sim, tive sorte de começar a sair com pessoas mais velhas da cidade quando ainda era bem novo. Quando eu estava no colégio, estagiei na Ninja Tune por um longo tempo. O único escritório deles na América do Norte costumava ser em Montreal. Trabalhei pra eles enviando CDs promocionais e tal, e me pagavam em vinil. Eu tinha 15 ou 16 anos, levava pra casa alguns discos toda semana. As pessoas que trabalhavam lá obviamente sabiam muito de música, então me indicavam o que procurar na loja de discos local. Saindo com as pessoas mais velhas da Ninja Tune, funcionários e artistas, cresci musicalmente com uma visão mais old school.

LuckyMe é um coletivo de artistas eletrônicos incríveis, como Hudson Mohawke e Machinedrum. Como você se envolveu com eles?
Na verdade, eu já conhecia todos os caras do LuckyMe há uns quatro anos. Na época nós mandávamos uns pros outros um monte de músicas, e estávamos todos conectando às mesmas paradas, cultura e música. Era como uma amizade, uma situação de amor à primeira vista do tipo: “Ah, caras, vocês também gostam do Timbaland? Vocês também gostam de sintetizadores granulares? Isso é tão legal!”

E tudo isso através do MySpace?
É, foi assim com o Lunice e o Rustie. Todo mundo estava falando do Lunice em Montreal. Na verdade, fui eu quem marcou o primeiro show do Lunice. Encontrei ele através do MySpace, mas acontece que a gente frequentava a mesma escola. Assim ficamos amigos, e eu marquei o primeiro show dele. Me envolvi com ele e seus amigos pra fazer uma festa em Montreal. Nós marcamos o primeiro show do LuckyMe na América do Norte, e mesmo quando eles terminaram, a gente começou a se dar bem no mundo real. Era uma amizade. Só gente comum saindo junto e enviando as faixas [do LuckyMe] anonimamente por um tempo porque éramos amigos.

O que você anda ouvindo no momento?
Essa é uma boa pergunta. Tenho voltado pro último disco do Four Tet. E a mixtape do Jeremih. Ele foi um “cara de um sucesso só” alguns anos atrás com aquela música “Birthday Sex”. Ele lançou um disco depois disso, que aliás é incrível, mas semana passada ele lançou uma mixtape chamada “Late Nights” que tem alguns momentos muito incríveis.

Há uma forte influência do R&B na sua música. O que te atrai nesse gênero?
Eu adoro a falta de complicação disso. Não há nenhuma pretensão. É algo bem direto. Se é um disco feliz que celebra o amor, vai ser o disco mais feliz que celebra o amor da melhor maneira. E se é sobre um coração partido, vai ser sobre a dor mais profunda de um coração partido. É lírico, é melodramático. É sempre sobre emoções

Gosto muito de produção glossy pop e produtores de rap, mas o R&B permite muito mais melodia porque tem um cantor ali. São certas coisas e a progressão de acordes no Tricky Stewart, que é o principal produtor da The-Dream, as pessoas gostam disso, como o Timbaland… eles têm momentos muito melódicos nessa música. É uma programação interessante de música. É música descomplicada num sentido que emoções e mensagens são sempre muito claras, puras e diretas. Tem alguns momentos onde eu penso: “Caramba, como eles fazem isso? É genial!” Poucas harmonias vocais – são 8 faixas de vocal e uma das linhas de improviso está se harmonizando com tudo ou fazendo uma contra melodia – simplesmente brilhante, eu gosto disso.

Qual a história por trás da sua aparição no videoclipe de “212” da Azealia Banks?
Ah, isso é meio esquisito. Ela conhece o Travis Machinedrum há muito tempo, e eu também, então acho que somos amigos de amigos desde sempre. O empresário do Travis, Mike Defrates de Montreal, assinou com ela, por sugestão do Travis, e o Mike também é amigo meu. Ele levou a Azealia Banks para Montreal no verão para ajudá-la nas composições e pra por ela no estúdio. Então ela ficou na cidade por dois ou três meses e o Mike disse: “Leva ela pra sair, pra se divertir, mostre a cidade pra ela”, porque nós dois temos relativamente a mesma idade. Então começamos a sair e nos tornamos amigos. Ela fez a gravação de “212” e pediu pra mim e pro Lunice aparecermos no vídeo. Primeiro achei que ia ser um daqueles clipes com milhões de participações especiais e eu apareceria só por um segundo, mas não sei o que aconteceu na produção do vídeo. Acabou sendo só eu e o Lunice e eu fico só olhando pra câmera por uns 10 segundos. É engraçado, se tornou uma coisa tão bizarra. As pessoas achavam que eu tinha produzido a faixa, mas não soa muito com algo que eu faria.

Alguns dos músicos eletrônicos mais talentosos têm vindo do Canadá, como Grimes e Purity Ring. Sendo de Montreal, por que você acha que acontece essa cena emergente de música eletrônica ali?
Não sei, acho que uma das razões é porque o aluguel é barato ali, então é realmente possível viver de música ou fazer o que você quiser fazer. Parece besteira, mas não é preciso ter um emprego ao mesmo tempo, quer dizer, eu costumava ter um trabalho de 60 horas por semana, mas não é preciso e isso te dá mais tempo pra trabalhar no que você quer fazer.

Mas também tem alguma coisa aqui. Um senso de comunidade não tão grande, mas se você vai a um show, vai reconhecer um monte de outros produtores e artistas. É uma cidade pequena, com só 2 milhões de pessoas. Mas nossa vizinhança, que parece que é onde todo mundo mora, é bastante unida. Você cruza com um membro do Arcade Fire no café ou algo assim. É isso. Eu moro a dois quarteirões do estúdio do Godspeed! You Black Emperor. Quando tive meu primeiro estúdio fora de casa, eu o dividia com o Wolf Parade. Acho que é assim aqui, mesmo eles fazendo indie rock, foi inspirador ter o Wolf Parade ensaiando por ali. Acho que tem alguma coisa a ver com ter criatividade à sua volta. Isso acaba alimentando sua alma e contribuindo para suas próprias ideias de alguma maneira. Se você vive numa cidade desprovida de qualquer expressão cultural, como você pode se sentir inspirado e ser criativo? Em alguns casos, isso cria arte através do desespero, porque você precisa criar alguma coisa. Mas é mais fácil se sentir confortável para fazer coisas quando há pessoas ao seu redor. É o efeito bola de neve, sabe?

Você fez o remix para “Lotus Flower” do Radiohead. Qual a história por trás disso?
Recebi um e-mail da XL Recordings: “Ei, Thom Yorke gostaria que você fizesse o remix do single de King of Limbs. Você está interessado?” Demorei alguns dias pra responder o e-mail. Acho que Thom Yorke e a banda escolheram todo mundo da compilação de remixes e eu tive sorte de estar no primeiro lançamento com o Caribou, de quem fui muito fã na minha época de formação em música eletrônica, quando ainda se chamava Manitoba. Então, estar num split de remixes do Radiohead com o Caribou é incrível pra mim porque eles eram grandes influências pra mim naquela época.

Foi tipo: “Uau, estou remixando uma das minhas bandas favoritas de todos os tempos junto com um dos meus músicos eletrônicos favoritos de todos os tempos, pra um dos meus selos favoritos.” Foi uma coisa depois da outra, foi uma loucura. Fiquei muito nervoso trabalhando nisso. Nenhum dos meus amigos sabia, nem meus pais… não dividi essa informação com ninguém até ter certeza de que o remix tinha sido aprovado e ia mesmo acontecer.

Comentários
0 Comentários

0 comentários:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...