Radiohead Clássicos Escondidos – (Knives Out)
Knives Out
Álbum: Amnesiac (2001)
Um fato intrigou a comunidade do chamado “Rock Alternativo” no início dos anos 00: como uma banda de rock, vinda de um disco consagrado e com dois guitarristas fabulosos, “abandona” as cordas e abraça os sintetizadores e instrumentos cibernéticos e desestrutura-se; buscando o experimento até à última potência?.
Para responder a devida pergunta é preciso mergulhar de cabeça numa fase nascida do anseio muito mais artístico do que comercial do quinteto, pela ruptura sonora. Para isso, a citação a mestres incrivelmente desconhecidos para o público (como Alice Coltrane e as bandas de rock da Alemanha dos anos 70) ajudaram a moldar as sessões de estúdio, transformadas em pequenos cérebros futurísticos, capazes de acelerar as partículas do tempo em estado bruto de criatividade e colapso, dessas sessões nasceram dois discos chaves para nossa época: Kid A (2000) e Amnesiac (2001).
Depois desse mergulho; as certezas escorreram pelas paredes perturbadas do ouvido: Amnesiac (disco que completou 11 anos em Junho) é um atestado esquizofrênico de arte, vindas das vísceras de uma banda disposta a desequilibrar o monótono consenso popular que amadurecia sobre si, mesmo que para isso, gerasse ódio, acesso de saudosismos ou conservadorismo melódicos em alguns e mais: quem disse que eles haviam abandonados as guitarras?0
Knives Out é o antidoto de volta as passado sonoro recente (até aquele momento) mas sob a batuta do jazz e a orientação poética e cinzenta de Thom Yorke. Jonny manipula seus dedilhados desenhando o caminho de volta - do ser humano à si mesmo - onde olhar para trás pode ser um erro irreparável e se determinar um retrocesso. A canção é um percurso que adentra os medos mais escuros do poeta, sob a cadência translucida de Phil Selway, que abriga ali um rumo esperançoso em sua precisão que se traduz numa espécie de fuga para um íntimo perdido em meio aos caminhos errantes que foram tomados durante a vivência, Thom áspero e raivosamente celestial, destila sua poesia num dos mais intensos devaneios poéticos da discografia, contando com uma das mais belas construções de dedilhados de Jonny Greenwood.
A sexta faixa de um dos discos mais discutidos da discografia é um cristalino arranjo de cordas e vocal, onde a beleza reside na construção de um espiral existencial e melódico, baseado em duas peças mágicas de uma engrenagem sublime – Jonny Greenwood e Thom Yorke – onde o magistral vocal chapado, é capaz de fluir as confusas certezas vividas até então, assinando uma das mais fabulosas canções de uma banda que reinventa-se para além das fronteiras do lugar comum, para estabelecer assim, sua própria assinatura.
Uma clara resposta que Thom Yorke e Cia, estavam querendo ir muito além da gravidade, os limiares de si mesmo eram e são até hoje, acima dos limites para a trupe mais inquieta dos nossos tempos.