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Radiohead comemora 13 anos do Kid A

 

O disco mais cabeçudo da nossa geração está comemorando 13 anos. Lançado no dia 02 de Outubro de 2000, para alguns nascia e morreria um Radiohead, para outros, era apenas a confirmação do que ouvimos no disco anterior,  que eles estavam muito além das fronteiras sonoras do rock e da gravidade. Kid A ou o primeiro clone humano, um universo pós-apocalíptico, um mundo não-humano, frio, desolado, apaixonadamente singular, imaterial.

 

 

Ironicamente um dos primeiros discos a inaugurar na íntegra na internet, ganhou diversos prémios e listas de melhor disco dos anos 00, copiado por muitos, odiados por outros muitos, um disco que parece que foi lançado hoje, nesse instante, sua pulsação gélida esconde um calor humano perdido nas entranhas sonoras de onde surgiu essa obra de arte. Em Kid A o Radiohead cravaria para sempre seu nome entre as grandes bandas de todos os tempos.

 

Radiohead comemora 12 anos de Kid A

 

Há exatos 12 anos, no dia 02 de Outubro de 2000, o Radiohead lançava seu quarto álbum de estúdio, um marco na carreira da banda, um dos discos mais aguardados do inicio do século e sobretudo, um dos mais geniais trabalhos da discografia dos ingleses.

Além dos prêmios (foi eleito em várias revistas o melhor disco dos anos 00) Kid A é uma obra de arte que nasceu de um colapso. Thom Yorke & cia vinham de um clássico (Ok Computer) e de um desejo de não repetir fórmulas prontas ou se perpetuar como uma banda de arena, à lá U2. Para isso, desestruturam a canção, abraçam de vez a influência da música eletrônica experimental, dosarem com ambientes jazz, sob a batuta de Alice Coltrane e Charles Mingus, e alargaram a discussão sobre o homem e tecnologia, sociedade, existencialismo, melancolia, esquizofrenia e certo teor de ironia para dentro do disco. Thom estava cansado dos velhos clichês do rock e a banda entrou num limbo em estúdio, em sessões gélidas, refletidas no diário mantido por Ed O Brien na internet na época.

Hmmmmmmmm

Conseguiram o proliferado “suicídio comercial” que a gravadora acreditava?. Não.

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O disco até hoje é um dos mais vendidos da banda, continua crescendo seu culto, hoje está em listas de melhores discos de todos os tempos, há releituras, tributos, as canção não envelheceram, obras primas como “Everynthing Right Place” (canção que até hoje é um das preferidas da banda para encerrar os concertos) continua espacial, porém, mais lisérgica. pérolas irretocáveis como “Kid A” e “How To Disappear Completely” permanecem enigmáticas e esfumaçadas de paisagens futurísticas de tom melancólico, “Idioteque” é uma das canções mais pedidas e executadas em shows e um dos melhores petardos da discografia do Radiohead.

A reflexão que fica com Kid A, não deixa dúvidas que o homem atual parece cada vez mais se afastar da sua “humanidade”. As relações pessoais, entrelaçadas com o cotidiano, transmitem a correria do mundo atual e o aprofundamento do homem consumista e individualista em sua razão de ser. O “Ok Computer” do disco anterior, se traduz em Kid A, mais que um sarcasmo existencial, passa a ser uma verdade íntima, indisfarçável e alarmante. Doze anos depois, isso mudou?.

Artwork - Kid A
















Kid A


(2000) Radiohead – Kid A
Track list:
1. “Everything in Its Right Place” – 4:11
2. “Kid A” – 4:44
3. “The National Anthem” – 5:51
4. “How to Disappear Completely” – 5:56
5. “Treefingers” – 3:42
6. “Optimistic” – 5:15
7. “In Limbo” – 3:31
8. “Idioteque” – 5:09
9. “Morning Bell” – 4:35
10. “Motion Picture Soundtrack” – 6:59


KID A
RADIOHEAD
EMI

O novo álbum dos Radiohead, "Kid A", remete a banda de Oxford definitivamente para fora das convenções musicais, num todo de onze faixas que promete demolir muitas almas. Uma qualquer sombra a "OK Computer" está completamente afastada.
As gravações de "Kid A" estiveram rodeadas de fortes pressões, tal o impacto causado pelo supremo "OK Computer", o álbum anterior dos Radiohead que fez render mesmo os que eram mais cépticos face à banda de Oxford. E essas expectativas e atenções elevadas, concentradas sobre os Radiohead, não eram certamente o desejo deste grupo de gente tímida, que sempre foi muito mais propícia a cultivar o anti-estrelato, alérgicos que são a excessos rock & roll género Oasis.
Orientados desde cedo pelas sonoridades indie, "Pablo Honey" foi o agradável álbum de estreia dos Radiohead, demonstrador da fogosidade rock que lhe fomos conhecendo, de uma capacidade de composição de canções de salutar, e até de alguma ingenuidade (com todas as qualidades e defeitos que esta característica humana tem). Os anos noventa ficaram a ganhar uma inconfundível voz, a de Thom Yorke, dando "Pablo Honey" o inesperado "hit" aos Radiohead, "Creep", tema denunciador de genialidade. Imperfeito e de indícios de grandiosidade futura, "Pablo Honey" é um álbum que permite à banda um vasto caminho evolutivo.
Novo passo em frente, "The Bends" é um álbum que se divide entre temas "radio friendly" de carácter mais simples (boas canções, ainda assim) - "The Bends", "High and Dry", "(Nice Dream)" - e músicas situadas num universo musical mais acima que prenuncia o "OK Computer", como o futurista arrojado "Planet Telex", e faixas intimistas e calorosas de que "My Iron Lung" e "Street Spirit" (o rasgo de génio de "The Bends") são exemplo. "The Bends" é o álbum do qual se extraem mais singles, e o que faz com que os Radiohead deixem de ser rotulados de Nirvana europeus, para passarem a ser considerados como os futuros U2 (o tempo encarregar-se-ia de provar que ambos os carimbos não poderiam estar mais errados).
De uma quase insuperável força, o terceiro álbum "OK Computer" torna-se num dos marcos incontestáveis da década de 90, que atira para as calendas gregas a proclamada morte do rock. Sucessão contínua de brilhantes canções com algum teor experimental, a inacessibilidade da música dos Radiohead aumenta à medida do seu crescente brilhantismo. Os Radiohead tornam-se na banda a ser seguida com atenção.
O ano 2000, olhado há largos anos pelos criadores da ficção científica como um período em que o indivíduo estaria já completamente desumanizado pela máquina, tem em "Kid A" um valioso documento que prova, a contrariar tal tese, o quão longe a faceta emocional inerente ao ser humano pode ir - a voz e alma de Thom Yorke. Porque é nele que quase todo o álbum se releva. O que é curioso para uma banda que é, e sempre foi, forte enquanto tal, sobretudo Ed O'Brien (elemento preponderante nas composições dos Radiohead, e um dos seus mais importantes porta-vozes) e Jon Greenwood (uma das imagens da postura melancólica e tímida da banda, foi da sua guitarra que saíram algumas das explosões sonoras características dos Radiohead, e foram dos seus teclados que se criaram alguns dos cenários idílicos na música desta banda). Mas em "Kid A", Thom Yorke é, mais que nunca, a figura central da banda.
Com a lógica excepção de "Treefingers", um instrumental minimal paradisíaco, mais propenso à criação de atmosferas de que melodias, e onde se vai constantemente ouvindo algo semelhante a um orgão de igreja, todo o álbum respira da voz de Thom Yorke, um manifesto intenso de mágoas. Sob diversas tonalidades, o seu poder vocal está melhor explorado que nunca.
Partindo do princípio de que quase todas as faixas vivem da virtude natural de Yorke, deve-se acrescentar que "Everything in Its Right Place" apresenta-se como uma magnífica desconstrução do que deve ser tradicionalmente uma música pop; "Kid A" e o mui inovador "Idioteque", apesar de deterem algumas feições electrónicas, são acima de tudo CANÇÕES; "The National Anthem" (com um som clarividente de baixo) e o ironicamente intitulado "Optimistic" (directo e simultaneamente viciador) dão-nos o lado de rock frontal dos Radiohead; "Motion Picture Soundtrack" é a faixa de características mais cinéfilas de um álbum que frequentemente sugere imagens.
Para uma banda fortemente conotada com as guitarras eléctricas (algo levado a fundo em "The Bends"), um dos dados mais atípicos deste álbum dos Radiohead reside, sem dúvida, no facto de existirem temas onde nem um acorde do citado instrumento se ouve.
Tal como PJ Harvey, os Radiohead têm comprovado de álbum para álbum uma capacidade indiscutível para superar, desde a primeira metade da década de noventa, uma fasquia que se apresenta cada vez mais elevada. Parecendo cada vez mais interessados em divorciarem-se do formato "hit" que os granjeou (à semelhança do que vai acontecendo com os Blur, em que "13" louva a estimulante que pode ser a descoberta de um álbum que nos escapa a uma primeira escuta), "Kid A" demonstra uns Radiohead bastante longe do que é supostamente a estrutura tradicional de uma canção, estando a banda britânica num nível musical extremamente evoluído.
A sua força e intensidade torna irrelevante a escolha de um qualquer tema ideal para single, para vídeo, ou para qualquer outro mecanismo promocional (percebe-se melhor após a escuta deste álbum porque é que a banda prescinde totalmente destas políticas de comercialização). Inacessível, de difícil audição, criador de saudáveis vícios, emocional, pelo menos, "Kid A" será um álbum que não deixará ninguém indiferente.
Gonçalo Palma